19 de janeiro de 2015

Mãe


Mãe
Que desgraça na vida aconteceu,
Que ficaste insensível e gelada?
Que todo o teu perfil se endureceu
Numa linha severa e desenhada?

Como as estátuas, que são gente nossa
Cansada de palavras e ternura,
Assim tu me pareces no teu leito.
Presença cinzelada em pedra dura,
Que não tem coração dentro do peito.


Chamo aos gritos por ti — não me respondes.
Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio.
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio.

Mãe
Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim!

(by - Miguel Torga)

4 comentários:

Jorge disse...

Os sentimentos, por uma mãe que partiu, perduram na nossa memória para todo o sempre. É também o nosso destino. Somos comandados por algo que nos supera.
Um abraço solidário.
Jorge

Graça Pereira disse...

Adoro este poema e comovo-me sempre!
É lindíssimo.
Um abraço
Graça

Aqui - Ali - Acolá disse...

Olá Jorge

Defacto é verdade, a nossa mãe é um sentimento muito forte que jamáis sairá de nossa memória.

Ela no pôs no mundo e isso diz tudo porque, através dela tudo aquilo que nos percorre na memória de tempos passados desde a infância até chegar o nosso destino perdurará para todo o sempre dentro de nós.

Abraço e tudo de bom lhe desejo.

Aqui - Ali - Acolá disse...

Amiga Graça bom dia.

Este poema é um toque muito forte em corações sensíveis ao sentimento de palavras tão belas porque ele é defacto muito lindo apesar de ser triste mas, a sua beleza está na composição em que ele está inserido.

A Poesia é um clic que desperta emoções de várias formas e este poema, é um exemplo disso pela forma como está escrito.

Tudo de bom te desejo amiga.
Bjos.