29 de março de 2009

Como Queiras, Amor...


Como Queiras, Amor...

Como queiras, Amor, como tu queiras.
Entregue a ti, a tudo me abandono,
seguro e certo, num terror tranquilo.
A tudo quanto espero e quanto temo,
entregue a ti, Amor, eu me dedico.

Nada há que eu não conheça, que eu não saiba,
e nada, não, ainda há por que eu não espere
como de quem ser vida é ter destino.

As pequeninas coisas da maldade, a fria
tão tenebrosa divisão do medo
em que os homens se mordem com rosnidos
de malcontente crueldade imunda,
eu sei quanto me aguarda, me deseja,
e sei até quanto ela a mim me atrai.

Como queiras, Amor, como tu queiras.
De frágil que és, não poderás salvar-me.
Tua nobreza, essa ternura tépida
quais olhos marejados, carne entreaberta,
será só escárneo, ou, pior, um vão sorriso
em lábios que se fecham como olhares de raiva.
Não poderás salvar-me, nem salvar-te.
Apenas como queiras ficaremos vivos.

Será mais duro que morrer, talvez.
Entregue a ti, porém, eu me dedico
àquele amor por qual fui homem, posse
e uma tão extrema sujeição de tudo.

Como tu queiras, meu Amor, como tu queiras.

Jorge de Sena

1 comentário:

~*Rebeca*~ disse...

Toda vez que leio um comentário seu fico de boca aberta. Você consegue escrever de uma forma que minhas palavras se perdem com tanto carinho que recebemos. Olha, você é um homem que por ser tão profundamente intenso, nem deveria estar sozinho às 06:00 da matina. Você tem amor que sabe amar a pessoa amada de todas as formas. Têm pessoas que não enxergam a pérola que as rodeiam. Você é um querido! Um amigo que deixa o seu afeto espalhado em nossos corações.

Obrigada de coração, por ser tão intenso naquilo que acredita quando nos lê.

Abraço com muito carinho e admiração.

Maravilhoso domingo.

Rebeca

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