27 de março de 2009

Canção da Saudade!..


Canção da Saudade!..

Se eu fosse cego amava toda a gente.

Não é por ti que dormes em meus braços que sinto amor. Eu amo a minha irmã gemea que nasceu sem vida, e amo-a a fantazia-la viva na minha edade.

Tu, meu amor, que nome é o teu? Dize onde vives, dize onde móras, dize se vives ou se já nasceste.

Eu amo aquella mão branca dependurada da amurada da galé que partia em busca de outras galés perdidas em mares longissimos.

Eu amo um sorriso que julgo ter visto em luz do fim-do-dia por entre as gentes apressadas.

Eu amo aquellas mulheres formosas que indiferentes passaram a meu lado e nunca mais os meus olhos pararam nelas.

Eu amo os cemiterios - as lágens são espessas vidraças transparentes, e eu vejo deitadas em leitos florídos virgens núas, mulheres bellas rindo-se para mim.

Eu amo a noite, porque na luz fugida as silhuetas indecisas das mulheres são como as silhuetas indecisas das mulheres que vivem em meus sonhos. Eu amo a lua do lado que eu nunca vi.

Se eu fosse cego amava toda a gente.


Almada Negreiros

5 comentários:

Unknown disse...

Muito lindo seu post e o blog...
abraços

Anónimo disse...

Querido amigo, amei a poesia! Em algum momento nostálgica, mas muito bela!
Já eu, amo a noite, porque me traz o brilho das das estrelas e o encanto da lua. Amo a noite, porque me traz a esperança de um novo dia.
Bom fim de semana!
Beijos

Seline disse...

Lindos os poemas que escolhes e com que nos presenteias em cada post.
Um fim-de-semana lindo para uma alma linda
Beijo

Unknown disse...

A saudade não está na distância das coisas, mas numa súbita fractura de nós, num quebrar de alma em que todas as coisas se afundam .

~*Rebeca*~ disse...

Ficamos contentes por saber que o que escrevemos te faz sentir toda essa explosão de sensações e emoções. Hoje em dia tudo é movido à razão, o emocional às vezes nem parece fazer parte do ser humano e demonstrar então nem se fala. E mais uma vez um relato seu que nos deixa felizes quando lemos. Agradecemos o afeto de suas palavras.

Se eu fosse cego eu iria gostar de enxergar toda a gente!

Até mais.

Jota Cê

-